A primeira vez que Alessandra Munduruku, de 39 anos, saiu da Aldeia Praia do Índio, em Itaituba (PA), foi para lutar pelos direitos do seu povo. Em 2015, ela foi a Brasília junto com os caciques para brigar pelo território onde viviam. Depois disso, não parou mais. Nesta segunda-feira, ela e outros cinco militantes vão receber o Prêmio Goldman de Meio Ambiente, o maior da categoria, pelo trabalho realizado em suas comunidades.
— Só basta estarmos vivos para lutar. Não é fácil largar o seu território para gritar na mesa de um deputado, presidente ou de qualquer empresa que queira violar nossos direitos — disse a indígena ao GLOBO.
Concedido desde 1989, a premiação baseada em São Francisco, nos Estados Unidos, já homenageou 219 ativistas. Neste ano, os vencedores foram: Chilekwa Mumba (da Zâmbia), Zafer Kizilkaya (Turquia), Tero Mustonen (Finlândia), Delima Silalahi (Indonésia) e Diane Wilson (Estados Unidos), além de Alessandra Munduruku, representando os países da América do Sul e Central.
A ativista ganhou o prêmio por ter organizado, no início de 2021, uma campanha de mobilização em sua aldeia para evitar que a empresa britânica de mineração Anglo American extraísse cobre dentro de territórios reservados. A ação de Alessandra também contou com auxílio de entidades como a Articulação dos Povos Indígenas (Apib).
“Povo vai continuar resistindo”, publicou a ativista em janeiro daquele ano em sua rede social. Na postagem, ela pedia a demarcação da terra indígena Praia do Índio, uma área de cerca de 28 mil hectares, na Floresta Amazônica, habitada pelo povo Munduruku.
Meses depois, em maio, a Anglo American se comprometeu formalmente em retirar os 27 pedidos de pesquisa feitos à Agência Nacional de Mineração (ANM) para extração de cobre em terras indígenas nos estados de Mato Grosso e Pará. Dos pedidos, 13 impactariam o território onde a indígena vivia com seu povo, de acordo com a Apib.
— Quem tem direito ao território são sempre aqueles caras que usam gravata, assinam os papéis e têm a caneta — observou. — Os não indígenas chegam fazendo um mapeamento e dizendo que a terra é deles, mesmo sabendo que não é. Só acreditam no papel deles, enquanto nós que vivemos lá há muito tempo não temos direito ao território. Sinto que os indígenas só têm direito a algo se não usarem roupa, não tiver acesso à internet nem educação.
Mas essa não foi a primeira vez que ela viu a terra da Aldeia Praia do Índio ser ameaçada. Alessandra contou ouvir, desde criança, “a cidade falando de garimpo” no território. De acordo com o relato, a floresta que rodeava o território onde vivia era derrubada, dando lugar a loteamentos.
Alessandra, no entanto, afirmou estar confiante com a criação do Ministério dos Povos Indígenas, comandado por Sônia Guajajara. Porém, segundo ela, há muito a ser feito.
— Foi uma grande luta para termos um ministério, mas ainda é preocupante. Nossa parenta Sônia não está sozinha. Ela tem uma responsabilidade muito grande em consultar os povos indígenas. A gente sabe que esse ministério não é para nos silenciar — disse, lembrando que o governador do Pará Helder Barbalho (MDB) também adicionou uma pasta específica para o tema em seu secretariado.
Porém, a luta da ativista não parou quando ela e os Munduruku afastaram a hipótese de extração de cobre na terra. A briga agora é pela demarcação do território e garantia de direitos básicos como saúde e educação para seu povo, porque, segundo disse, “os povos indígenas merecem mais”.
Mesmo que demore, o sonho de Alessandra Munduruku é voltar para sua casa, na Aldeia da Praia do Índio, onde possa viver perto de seus parentes. Segundo ela, há bens que só se encontram no território de seu povo:
— Voltar é o que mais quero. Dá uma raiva de morar na cidade quando falta água, porque lá (na terra indígena) eu só preciso ir ao rio.
De O Globo.
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