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Consumo de açúcar compromete saúde bucal dos brasileiros

Ministério da Saúde alerta para a alta proporção do componente “cariado” durante levantamento da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal

Dados preliminares da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal (Projeto SB Brasil), principal forma do Ministério da Saúde avaliar a condição de saúde bucal da população, indicam que há muitos brasileiros precisando ir ao dentista com urgência. Entre os adultos de 35 a 44 anos, foi identificada a necessidade de realizar ao menos um procedimento odontológico eletivo em 48,4% dos examinados.

O Ministério da Saúde também chamou a atenção para a alta proporção do componente “cariado”, que é um indicativo de que, no momento do exame, a pessoa teria, no mínimo, uma cárie não tratada.

O cirurgião-dentista e membro da Câmara Técnica de Dentística do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dr. Nívio Fernandes Dias, explica que a cárie está atrelada à frequência de açúcar na boca e não necessariamente à quantidade de açúcares ingeridos. De acordo com o especialista, isso acontece porque existe no dente o biofilme, que é a placa bacteriana que está presente na boca. Ela só sai com a limpeza, com a escovação e com o uso do fio dental. A placa, portanto, está presente na boca o tempo todo.

“Por exemplo, se a pessoa comer uma barra de chocolate inteira terá um efeito, mas se pegar essa barra de chocolate, quebrar em dez pedacinhos e comer um pedaço a cada meia hora, terá um efeito dez vezes maior”, esclarece. 

Dr. Nívio detalha que, ao ingerir um alimento com açúcar, como uma bala, um sorvete, uma bolacha recheada, um café com açúcar ou leite com chocolate, esse açúcar vai permear a placa bacteriana. “Existem bactérias que precisam desse açúcar para produzir energia para sobreviver. O subproduto disso é que elas liberam um ácido chamado lático. Esse ácido, em contato com o dente, começa a corroer o esmalte”.

O cirurgião-dentista explica, ainda, que o esmalte começa, então, a desmineralizar, ou seja, a perder mineral para a placa. Ele compara esse processo a uma casinha cheia de tijolos; cada tijolo é um cálcio e ele vai saindo quando o pH da boca está baixo pela ingestão de açúcares. Depois de algum tempo a saliva lava e vai elevando o pH da própria saliva; depois, vai recolocando esses tijolinhos de cálcio no dente, ou seja, fazendo a remineralização. “A placa provocou a desmineralização e a saliva a remineralização. A cárie se instala quando existe um desequilíbrio nesse processo. O consumo frequente de açúcar durante o dia faz com que ocorra um desequilíbrio e essa balança vai pender para a desmineralização. A partir daí, o dente começa inicialmente com uma mancha branca, essa mancha vira uma cavidade e essa cavidade é uma cárie”.

Prevenção

A doença conhecida como cárie, de acordo com o Dr. Nívio, não se resume ao buraco no dente. O buraco no dente é um sinal da cárie. Ele explica que a cárie é uma doença única que se manifesta por meio de várias feridas. “Não temos, por exemplo, 10 cáries, temos 10 lesões de cárie. Restaurar essas lesões é um tratamento para o sinal da doença e não para a doença. Portanto, o tratamento da cárie é a prevenção, o conhecimento, explicar ao paciente os malefícios do consumo frequente de açúcares e o que eles podem causar. São os açúcares mais simples, sacarose e glicose, que são facilmente metabolizados pela placa bacteriana”.

Dr. Nívio esclarece ainda que, quando se trata de açúcares provenientes dos carboidratos dos alimentos, como arroz, batata, mandioca e frutas, dificilmente haverá uma desmineralização grande a ponto de poder causar uma lesão de cárie. Ele lembra também que a cárie depende basicamente de prevenção e que o único medicamento que “ajuda” a manter o equilíbrio quando a pessoa ingere açúcar é o flúor.

A presença do flúor na boca ocorre por meio da utilização de cremes dentais e nas aplicações em consultórios. “O flúor presente na boca frequentemente faz com que o esmalte do dente fique mais protegido da cárie dental. Portanto, ao escovar os dentes com creme dental com flúor, promovemos a presença dele na boca durante o processo de desmineralização. Quando o dente vai ser remineralizado pela saliva, esse flúor entrará no dente tornando-o mais resistente”.

Tempo certo para a escovação 

Após a alimentação, promover a higienização dos dentes é fundamental, contudo, existe um tempo certo para realizar a escovação. Segundo o Dr. Nívio, quando o indivíduo acaba de comer não deve escovar imediatamente os dentes, pois quando ingere um alimento, o pH da boca está ácido e os dentes estão sendo corroídos. Ele explica que, se além da corrosão química, que é chamada de biocorrosão, a pessoa esfregar os dentes durante a escovação, aumenta mais o dano.

“Antes se falava ‘comeu, escovou os dentes’, hoje não faz sentido assim. O ideal seria escovar os dentes antes de comer porque aí seria possível remover a placa bacteriana e não teria tantas bactérias para causar o dano, mas isso é muito pouco provável que aconteça. Então, o ideal é aguardar pelo menos de meia hora a quarenta minutos para fazer a escovação, principalmente se houver ingestão de doces durante essa refeição”, conclui Dr. Nívio.