Presidente do PL cogita deputada bolsonarista condenada por discurso de ódio como possível vice de Braga Netto na chapa para Prefeitura do Rio.
O texto que levou à decisão, de julho do ano passado, foi publicado em 2020 no Facebook. Na ocasião, Chris afirmou que a pedofilia é “defendida explicitamente por alguns expoentes do movimento LGBT”. O Ministério Público Federal (MPF) entendeu que as falas da deputada configuram “discurso de ódio e menosprezo pelo ordenamento jurídico e pelas instituições democráticas”. Chris entrou com um recurso contra a condenação e aguarda análise do tribunal.
Em entrevista à GloboNews na última terça-feira, Valdemar Costa Neto enfatizou que a vice de uma eventual candidatura de Braga Netto seria uma mulher. Ao sinalizar preferência pela deputada, destacou o fato de Chris ser “religiosa” e de ter “prestígio” como ativos eleitorais da parlamentar, que é católica.
— Ela com Braga Netto seriam imbatíveis no Rio de Janeiro — avaliou.
Na mesma entrevista, Costa Neto afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro precisa convencer seu antigo vice a se candidatar. Apesar de ser tratado pelo PL como nome certo na disputa, o militar da reserva resiste a concorrer porque, segundo aliados, seu foco seria disputar o Senado por Minas Gerais nas eleições de 2026, de acordo com a colunista do Extra Berenice Seara.
Chris teve pouco mais de 50 mil votos no pleito do ano passado. Do total, 23,6 mil foram na capital. Procurada para comentar se pretende disputar o posto de vice na chapa, a deputada, que está em licença maternidade, não se manifestou.
A maioria dos projetos de lei apresentados pela parlamentar na Câmara dos Deputados mira temas relacionados à agenda de costumes. Um deles, de 2021, por exemplo, busca estabelecer “medidas protetivas à Língua Portuguesa” e proíbe o uso de linguagem neutra. Um tema recorrente é a tentativa de restringir o aborto legal, em condições já previstas na Legislação brasileira. Em uma proposta de 2019, a bolsonarista defendeu retirar do Código Penal a permissão para interromper a gravidez resultante de estupro e quando não há outro meio de salvar a vida da gestante.
Diante das propostas, um levantamento da Revista AzMina, de 2022, apontou Chris Tonietto como a parlamentar com maior número de projetos desfavoráveis às mulheres na Câmara. Em maio, a deputada também foi uma das 36 parlamentares a se posicionarem contra o projeto de lei, aprovado na Casa, que institui medidas para garantir que homens e mulheres recebam o mesmo salário quando ocupam a mesma função.
Conteúdos antivacina
Na pandemia, a deputada, que é advogada, foi responsável por produzir e divulgar um modelo de pedido de habeas corpus contra o “passaporte da vacina”, para contestar um decreto da prefeitura do Rio. Na época, o Tribunal de Justiça do Rio recebeu dezenas de pedidos idênticos contra a medida.
Ela também compartilhou conteúdos antivacina em seu canal no YouTube, apagados pela própria deputada em janeiro, antes de tomar posse para o segundo mandato, segundo reportagem da agência de checagem Aos Fatos. Chris foi ainda uma das autoras de um projeto de decreto legislativo para anular a decisão da Anvisa que autorizou a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19.
Nas redes sociais, a deputada seguiu Bolsonaro e mirou as urnas eletrônicas. Em uma postagem de 2021, ainda no ar, ela afirma que “a maioria da população está insatisfeita com o processo eleitoral e tem sérias dúvidas sobre a apuração dos votos”. A deputada reproduz um vídeo do ex-presidente com desinformação sobre o processo eleitoral, tema que levou à inelegibilidade de Bolsonaro por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Chris Tonietto foi eleita após atuar no Centro Dom Bosco, associação de leigos católicos ultraconservadora conhecida no país por mover ações para censurar especiais de Natal da produtora Porta dos Fundos. Em 2018, a bolsonarista foi a advogada do grupo em um dos casos que tramitaram, sem sucesso, na Justiça do Rio.
No mesmo ano, um vídeo em que a parlamentar questiona o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), se a Corte poderia legalizar o aborto mesmo com a maioria da população contra a medida já havia circulado entre grupos conservadores.
De O Globo.
Adicionar comentário