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Economia

Empreendedorismo: Curso busca diminuir exclusão socioeconômica da população LGBTQIA+

Rio de Janeiro - 22ª Parada do Orgulho LGBTI, na Praia de Copacabana. (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Diversità está formando 50 empreendedores gays, lésbicas, bissexuais, trans e travestis para o competitivo e pouco inclusivo mundo dos negócios

Segundo pesquisa do LinkedIn em 2022, 43% das pessoas LGBTQIA+ no Brasil relataram ter sofrido discriminação no trabalho. Além disso, um levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) mostrou que 90% da população trans estão envolvidos com a prostituição por não terem outras alternativas de emprego. Assim sendo, a Diversità Consultoria, em parceria com a Micro Rainbow Brasil (MRB), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Instituto +Diversidade e a Casa Neon Cunha, resolveu oferecer meios para garantir autonomia financeira a esta população. Na próxima quarta-feira (12/07), 50 empreendedores LGBTQIA+ se formam, às 16h, em um curso online que visa dar apoio na estruturação dos negócios desta comunidade.

O curso da Diversità que se encerra nesta semana foi realizado na modalidade online entre 5 de junho e 5 de julho, com aulas sobre Estratégias e Planejamento de Negócios, Marketing, Precificação e Controle Financeiro. Além disso, buscou trazer aportes sobre habilidades empreendedoras e estratégias de resistência trans com professores(as) experientes e monitorias individuais. O curso teve prioridade para pessoas trans e utilizou a metodologia de ensino da Micro Rainbow Brasil, ONG pioneira nesta área que já capacitou, desde 2015, cerca de 400 empreendedores LGBTQIA+ de todo o país e mais de 250 conseguiram abrir ou expandir seus pequenos negócios em diversos setores.

Especialista em Direitos Humanos e diretor-executivo da Diversità, Lucas Paoli acredita que o problema da empregabilidade não é exclusivo desta comunidade, mas se intensifica devido ao estigma e ao preconceito sofridos. “Tal contexto acaba limitando as oportunidades de trabalho e contribuindo para a baixa-autoestima, além das dificuldades para obter meios de subsistência. Além de empreendedores LGBTQIA+, também oferecemos consultoria para empresas que queiram ser mais inclusivas e primar pela diversidade”, complementou Lucas.

Alunes

Uma das empreendedoras, Bruni Fernandes, de Minas Gerais, procurou o curso como ferramenta para guiar e amparar o processo de melhor organização e articulação do seu negócio. “Sendo uma pessoa trans e profissional autônoma, minha participação no curso foi e ainda está sendo transformadora. Consigo projetar, sonhar e ver que há caminhos para ir alcançando tudo que quero e espero do meu negócio”, relatou ela, que tomou conhecimento da chamada para inscrições da primeira turma do curso por meio de ex-alunos da Micro Rainbow Brasil. Mauro Apollo, de Fortaleza, tem uma loja destinada a homens trans e não-binários e conheceu a Diversità através do Instagram. “Também sou empreendedor. Tenho uma loja que atua no mercado há seis anos. Assim que conheci a consultoria, tive interesse pelo curso”, contou.

Já Itacira Silva, confeiteira e mulher trans, possui uma confeitaria artístico-criativa (@lobomaudoceteria) em Recife e também decidiu fazer o curso para empreendedores LGBTQIA+. “Comecei a empreender em 2020 e, hoje, ofereço bolos decorados vintage. Eu me tornei uma das maiores fornecedoras da minha região. O curso chegou em um momento em que estava precisando muito. Ao entrar na turma da Diversità, pude aprender ainda mais tendo contato com semelhantes e me desenvolvendo até como pessoa. Não conhecia trans que estivessem no mesmo caminho que eu”, declarou.

O curso contou com participantes das áreas de gastronomia, confeitaria, música, produção cultural, artes plásticas, empreendedorismo social e literatura, dentre outros. Na última semana, 36 estudantes fizeram um pitch de negócios (apresentaram os modelos elaborados no curso) para uma banca composta pela equipe da Diversità e por professores e os 15 com a melhor avaliação receberão um “capital semente” e três meses de mentoria. A iniciativa faz parte do Projeto Pride, liderado pela OIT, que busca contribuir para o aumento da participação de pessoas LGBTQIA+ na economia formal e no mercado de trabalho.