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Bomba atômica: quando foi criada, onde foi utilizada e qual o papel de Oppenheimer?

Explosões em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, deixaram mais de 100.000 mortos em 1945

Alguns meses após a divisão do átomo, o físico alemão e ganhador do Prêmio Nobel Albert Einstein, uma figura influente e popular que contribuiu muito para suas pesquisas no início do século 20, e Leo Szilard, um físico húngaro radicado na Alemanha, enviaram uma carta ao então presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt.

Na carta, eles alertavam sobre o potencial militar dessa descoberta e a possibilidade de que a Alemanha, país líder em pesquisa nuclear na época sob o regime totalitário de Adolf Hitler, tentasse desenvolver uma bomba atômica.

Einstein e Szilard haviam saído da Alemanha após a ascensão do nazismo e atualmente trabalhavam em universidades americanas, e seu alerta valeu a pena: em outubro do mesmo ano, o governo dos Estados Unidos destinou os primeiros fundos para pesquisas com fins militares.

Na Alemanha os esforços começaram ainda antes: logo após a invasão da Polônia em 1º de setembro de 1939, o físico e Prêmio Nobel Werner Heisenberg, outro dos grandes nomes da física nuclear mundial, recebeu os primeiros recursos do exército para iniciar suas próprias investigações.

Devido à urgência da guerra, à falta de materiais básicos e ao compromisso do regime nazista com outras tecnologias, o programa nuclear alemão, às vezes conhecido como Uranverein (clube de urânio, em tradução livre), nunca se tornou uma prioridade ou atingiu o nível de progresso a que o chegariam aliados, mas parecia confirmar as suspeitas de Einstein e Szilard e consolidar a decisão dos Estados Unidos de desenvolver uma bomba atômica.

O “Projeto Manhattan” e J. Robert Oppenheimer

Após a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, em 7 de dezembro de 1941, e em meio a relatórios de inteligência que exageravam os avanços do Uranverein alemão, Roosevelt ordenou que o programa fosse acelerado e colocado sob o controle do Departamento de Guerra.

Como grande parte da pesquisa inicial havia sido feita na Columbia University, localizada em Manhattan, Nova York, e a cargo do Corpo de Engenheiros do Exército sediado naquele distrito, em 1942 o projeto ganhou o codinome “Manhattan”.

Dois nomes foram assimilados ao “Projeto Manhattan”: o do Brigadeiro General Leslie R. Groves, o líder militar do esforço, e o de Julius Robert Oppenheimer, o físico que dirigiu o laboratório construído em Los Alamos, Novo México, de 1943, para concentrar o trabalho de pesquisa de centenas de pessoas em um ambiente discreto e controlado.

Os trabalhos em Los Alamos visavam a produção da primeira bomba atômica, e puderam ser alcançados graças à construção do primeiro reator nuclear do mundo, o Chicago Pile-1, em dezembro de 1942, primeiro sucesso do “Projeto Manhattan”.

Como funciona uma bomba atômica?

Trabalhando contra o relógio, e enquanto as batalhas mais duras da Segunda Guerra Mundial ocorriam na Europa e no Pacífico, a equipe liderada por Oppenheimer avançava em dois modelos de armas capazes de desencadear uma explosão nuclear.

Em ambos os casos, o que se buscava era produzir um grande número de fissões nucleares, ou seja, partições de átomos de urânio ou plutônio, neste caso, que desencadeassem uma reação em cadeia no menor tempo possível e contida em uma pequena massa.

Cada partição libera enormes quantidades de energia, e a reação em cadeia pode terminar em uma gigantesca detonação que libera calor e radiação, bem como a onda de choque.

A primeira das duas bombas desenvolvidas foi do tipo detonação de canhão ou tiro, na qual a fissão nuclear e a reação em cadeia necessárias para a explosão foram conseguidas com o disparo de um projétil de urânio-235 em outro bloco do mesmo elemento. Foi o modelo usado em Hiroshima, apelidado de “Little Boy”.

O segundo projeto foi a implosão, na qual a detonação nuclear foi alcançada pela explosão de explosivos convencionais em torno de uma esfera de plutônio, comprimindo-a e forçando assim uma reação em cadeia. Esta foi a bomba lançada sobre Nagasaki, chamada “Fat Man”.

Primeiros usos da bomba atômica: Trinity, Hiroshima e Nagasaki

A Alemanha se rendeu em 9 de maio de 1945 e, de repente, não houve mais corrida armamentista contra o time liderado por Heisenberg. Mas o Japão continuou a lutar por mais alguns meses, e o Departamento de Guerra dos Estados Unidos voltou sua atenção para o arquipélago asiático.

Nesse contexto, Oppenheimer organizou o primeiro teste nuclear da história em 16 de julho de 1945. Batizada de “Trinity”, essa bomba atômica projetada por implosão foi detonada na base de Alamogordo, a 193 quilômetros de Albuquerque, e marcou o sucesso definitivo do “Manhattan Projeto”.

Oppenheimer, Groves e um grupo de soldados e cientistas observaram de um bunker aquele momento em que o sol parecia nascer da terra.

“Em minha mente, eu estava pensando em uma linha do Bhagavad-Gita na qual Krishna tenta persuadir o Príncipe de que ele deve cumprir seu dever: ‘Eu me tornei a morte, o destruidor de mundos’”, escreveu Oppenheimer naquele dia, fazendo uma paráfrase do texto sagrado do hinduísmo.

Enquanto Groves, triunfante, dizia no bunker e após o ensaio: “Este é o fim da guerra tradicional!”.

O entusiasmo dos militares dos EUA e a resistência japonesa cada vez mais rígida levaram à detonação de uma segunda bomba atômica menos de um mês depois, pela primeira vez em uma cidade.

Em 6 de agosto de 1945, Hiroshima, localizada a cerca de 600 quilômetros ao sul de Tóquio, foi devastada por uma bomba tipo canhão lançada por um bombardeiro B-29: cerca de 70.000 pessoas morreram instantaneamente na explosão de calor e radiação.

E três dias depois, em 9 de agosto, outro dispositivo do tipo implosão, como o usado em “Trinity”, foi lançado sobre Nagasaki, matando instantaneamente 40.000 pessoas.

O Japão finalmente se rendeu em 2 de setembro, e uma nova era dominada por armas nucleares e pela ameaça de destruição em massa começou para o mundo. E nem mesmo a virada de Oppenheimer, que se tornou um crítico do uso militar da tecnologia nuclear, não conseguiu mais acabar com isso.