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Desigualdades persistentes na trajetória das mulheres arquitetas

Comemoração do Dia da Mulher Arquiteta traz à tona a história e desafios enfrentados pelas profissionais femininas.

No dia 31 de junho, celebra-se o Dia da Mulher Arquiteta, uma data que provoca reflexões profundas sobre a jornada e as dificuldades enfrentadas pelas mulheres nessa profissão. Melissa Toledo, renomada arquiteta e urbanista, compartilha suas perspectivas sobre o tema, destacando figuras inspiradoras como Lina Bo Bardi e ressaltando a importância de ser professora além de arquiteta.

Para Melissa a história da primeira mulher arquiteta no Brasil, Arlinda da Cruz Sobral. Nascida em 1883, Arlinda iniciou seu curso de arquitetura em 1907 e formou-se em 1914. No entanto, devido às limitações educacionais da época, ela também teve que estudar magistério, pois as opções para as mulheres eram restritas. Melissa destaca o fato de que o urbanismo só foi integrado ao currículo de arquitetura mais tarde, em 1968-1969, na Escola Belas Artes.

Além de sua carreira como arquiteta, Arlinda também atuou como professora e chegou a ocupar o cargo de diretora de uma escola municipal. Essa dualidade entre a profissão de arquiteta e o ensino tornou-se uma característica marcante de sua atuação, mostrando como muitas mulheres arquitetas tiveram que conciliar diferentes papéis ao longo da história.

Melissa faz uma reflexão sobre a discriminação de gênero enfrentada por Arlinda e compartilha suas próprias experiências durante sua trajetória acadêmica. Ela menciona um episódio em que foi sugerido que ela deveria ser dançarina em vez de arquiteta, destacando a existência de preconceitos sexistas dentro das universidades e da sociedade em geral.

No entanto, mesmo após 109 anos desde a formação de Arlinda da Cruz Sobral, as desigualdades de gênero persistem na arquitetura.

“Uma pesquisa realizada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) revela as dificuldades enfrentadas pelas mulheres arquitetas. Mulheres negras sofrem 16 vezes mais violência, enquanto a maternidade se torna um obstáculo para conciliar trabalho e família. A frequência de violência pública contra mulheres arquitetas também é alarmante, com uma média de 14 casos registrados”, enfatiza a arquiteta.

Melissa reconhece seu próprio privilégio como mulher branca de classe média, mas destaca as maiores dificuldades enfrentadas por mulheres arquitetas negras e trans. Essas profissionais encontram maiores obstáculos para se inserir e se estabelecer no mercado de arquitetura e urbanismo.

Apesar dos avanços alcançados ao longo dos anos, a divisão sexista ainda está presente na arquitetura.

“É importante continuar lutando pela igualdade e justiça na profissão, especialmente nas regiões do Nordeste e Norte do Brasil, onde essas questões são particularmente relevantes. Por isso é necessário um compromisso em promover a igualdade de gênero na arquitetura e a necessidade contínua de inclusão e reconhecimento pleno das mulheres na área”, finaliza Melissa Toledo.