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Alta taxa de juros impõe diversos desafios econômicos

Economia começa a apresentar indicadores positivos, mas Selic elevada contém crescimento, diz o empresário José Maurício Caldeira

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central em manter a taxa básica de juros em 13,75%, sem ao menos sinalizar que a redução da Selic está próxima, caiu como um balde de água fria para os setores produtivos. O IPCA , índice oficial de inflação, fechou em 3,94% em 12 meses até maio. A previsão é que o índice encerre o ano em pouco mais de 5%, ainda acima da meta, mas em trajetória descendente. O comportamento do dólar é de viés de baixa, o que também ajuda a impedir aumentos de preços.

A inflação vem desacelerando, assim como as expectativas futuras de aumento de preços. O IPCA, índice oficial de inflação, fechou em 3,94% em 12 meses até maio. A previsão é que o índice encerre o ano em pouco mais de 5%, ainda acima da meta, mas em trajetória descendente. O comportamento do dólar é de viés de baixa, o que também ajuda a impedir aumentos de preços.

No campo fiscal, também houve avanços significativos. O novo arcabouço passou em primeira votação pela Câmara e foi aprovado no Senado por larga maioria (57 a 17). Como foram feitas modificações no texto, ele deverá passar por segunda votação na Câmara nos próximos dias. O crescimento de 1,9% do PIB do primeiro trimestre, de fato, foi uma surpresa positiva. Este percentual deve-se, sobretudo, ao desempenho da agropecuária. A safra agrícola deste ano será excelente, com aumento da produção de grãos de quase 16%. Em função deste resultado, as estimativas para o PIB de 2023 subiram para cerca de 2,5%.

Há, no entanto, pontos de atenção. A indústria de transformação caiu nos últimos três trimestres. Os investimentos também recuaram por dois trimestres seguidos, sendo que a Formação Bruta de Capital Fixo teve queda expressiva. Baixo investimento compromete o crescimento futuro. Para José Maurício Caldeira, sócio-acionista da Asperbras, grupo que atua em diversos setores da indústria e do agronegócio, a decisão de manter a taxa básica de juros em patamar alto é difícil de entender.

“A Selic está neste patamar desde agosto de 2022. É muito importante que os juros baixem. As famílias estão endividadas, o crédito está caro e, neste contexto, as empresas têm dificuldade de fazer investimentos”, diz José Maurício Caldeira. Atualmente, o Brasil tem o maior juro real do mundo, próximo a 7%. Para o executivo, os dados e acontecimentos recentes indicam que a Selic já poderia ter caído ou, pelo menos, que o Banco Central tivesse indicado de forma clara que iria reduzi-la em agosto, data da próxima reunião do Copom.

Complementam esta percepção ainda o fato de a agência de risco S&P ter mudado, recentemente, a perspectiva de rating (nota de crédito) para o Brasil de neutra para positiva. Foi a primeira alteração em mais de quatro anos. No entendimento da agência, aumentaram as chances de que o crescimento econômico do Brasil em 2023 seja mais forte com a estabilidade das políticas monetária e fiscal. Apesar dos déficits ainda altos, a S&P crê que o crescimento contínuo do Produto Interno Bruto (PIB) e o novo arcabouço fiscal podem conter o avanço dívida pública.

A dificuldade de acesso ao crédito para as empresas e a inadimplência de pessoas físicas e jurídicas são dois tópicos relevantes diretamente impactados pela taxa de juros. “Por isso, é muito importante que a Selic caia e daí decorre a decepção dos setores produtivos”, explica Caldeira. Ele lembra que o governo federal está atacando o problema da inadimplência das famílias com o “Desenrola Brasil”, programa lançado para possibilitar que dívidas de pessoas físicas sejam renegociadas. A meta é auxiliar os endividados a saldarem seus débitos. O governo acredita que 70 milhões de pessoas poderão ser beneficiadas pelo programa. “Os sinais positivos estão surgindo, mas o momento ainda é delicado, de muitos desafios”, diz o executivo. “Uma taxa de juros adequada, compatível com a produção, é condição fundamental para impulsionar a economia. Não há justificativas para o Brasil ter o maior juro real do mundo”, finaliza José Maurício Caldeira.