A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed) anuncia nesta sexta-feira (31) o índice de reajuste de cerca de 28 mil remédios regulados. A estimativa do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) é de alta de 5,6%. No entanto, o preço teto estabelecido está longe de refletir o valor de mercado, que pode variar de acordo com o local, a data e até o horário da compra.
Pesquisa feita pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) mostra que o valor listado pela Câmara chega a ser 90% maior do que a média praticada pelas farmácias para remédios de referência e até 384% mais alto em medicamentos genéricos. Na prática, isso pode resultar em reajustes diferentes ao consumidor, superiores ao percentual determinado pelo órgão, diante da distância entre o valor máximo fixado pelo Cmed e o de mercado.
Por isso, pesquisar é fundamental. E não basta comparar entre diferentes farmácias. É preciso quase uma gincana para conseguir o melhor preço. Na mesma rede, o valor pode variar se a compra for por internet ou direto no balcão, se o cliente fizer cadastro e até de acordo com o dia e o horário escolhido. Em poucas áreas do varejo os preços variam tanto como nas farmácias.
— O preço inicial no site costuma ser mais barato. Ao fazer o cadastro, a redução é, em média, de 25%. O mesmo ocorre no balcão. Encontramos desconto de até 50% para um antibiótico. O desconto está sempre vinculado à concessão de dados pelo cliente — diz Ana Carolina Navarrete, coordenadora de Saúde do Idec.
O presidente do Ibevar, instituto de executivo do varejo, Claudio Felisoni, explica ainda que as farmácias aplicam a chamada “precificação dinâmica”. Ou seja, o preço varia de acordo o local, a data e até o horário da compra:
— À noite, por exemplo, há menos desconto, pois há menos lojas abertas.
Além disso, o cadastro em fabricantes de medicamentos, a apresentação da carteirinhas do plano de saúde e a parceria entre empregadores e redes de drogarias são outras formas de reduzir o desembolso.
O preço inicial por telefone e o praticado nos balcões da farmácia costumam ser mais altos do que os oferecidos em sites e apps. A explicação é que nos dois últimos o consumidor já tem cadastro. E é a cessão de dados pessoais às farmácias que garante o desconto, em média, de 25%. Alguns sites oferecem “retirada na loja”, o que gera economia com o frete. E há redes que oferecem cashback, retorno de parte do valor da compra para ser gasto em novas aquisições. Nas lojas pode haver diferença até na mesma rede, já que fatores como local, perfil de público e custos influenciam a precificação.
Como explicado pelo presidente da Ibevar, a barganha tem poder. As drogarias reservam para os clientes mais sensíveis uma margem de negociação. Por isso, é importante solicitar o desconto. Segundo Felisoni, o método mais eficaz é solicitar as “deduções do gerente”, pois ele é quem pode garantir o maior percentual. A barganha na farmácia, aliás, não deve se restringir a medicamentos. Muitas vezes, é possível conseguir reduções em outros produtos tendo o conhecimento de preço do mercado. Há redes que cobrem ofertas da concorrência.
A lei da oferta e da demanda também vale para as farmácias e pode influenciar nos preços. Durante a noite, quando há menos lojas abertas, o percentual de desconto tende a ser menor, diz Felisoni, do Ibevar, já que há menor possibilidade de pesquisa e concorrência.Ele ressalta ainda que boa parte das pessoas costumam comprar seus medicamentos quando recebem, geralmente no início do mês. Dessa forma, há maior demanda e menor disponibilidade a redução nesse período, principalmente, avalia, entre os remédios de uso contínuo.
“Tem cadastro?” é a primeira pergunta feita ao clientes quando ele chega ao balcão da drogaria. Para a maioria das pessoas, é impossível não ceder à pressão para informar dados pessoais diante do desconto. A pesquisadora do Laboratório de Tecnologias Livres da Universidade Federal do ABC Joyce Souza alerta, no entanto, que é preciso questionar a finalidade do pedido de dados:
— Há redes pedindo nome do cônjuge, para quê? E por que dar endereço se não haverá entrega? É preciso saber como os dados são usados, com quem são compartilhados. E fornecer o mínimo de informações.
Os planos de saúde podem ser usados para obter desconto na compra de medicamentos em algumas redes. O cadastro feito pelos laboratórios, em classes especiais de medicamentos, principalmente nos de uso contínuo, é outra opção. No caso da insulina, por exemplo, a redução é na casa dos 20%. A consulta e o cadastro dos remédios do Programa de Benefícios em Medicamentos podem ser feitos pela internet. Na hora da compra, confira qual é o maior desconto. Algumas vezes, o gerente tem possibilidade de dar um percentual maior do que o oferecido pela indústria. Tem que checar.
Lia Hasenclever, pesquisadora associada do Instituto de Economia da UFRJ, alerta ainda para o fato de que nem sempre os genéricos são mais baratos que os medicamentos de referência, aqueles que possuem patente.
— Pela regra, os genéricos têm de entrar no mercado com preço 35% abaixo do teto do valor do medicamento de referência. Mas como o limite da Cmed é bem mais alto que a prática de mercado, acaba que há casos em que o medicamento de referência é mais barato, é preciso sempre conferir — orienta Lia.
De O Globo.
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