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Síndrome do Final de Ano pode agravar sintomas da ansiedade

Um fenômeno reconhecido como Síndrome do Final de Ano refere-se ao aumento da ansiedade com a aproximação do fim de ano, e o Brasil registra cerca de 9,3% da população com esse transtorno. A psicóloga Daniela Pelisson sugere a importância de reconhecer e valorizar as conquistas do ano, além de gerenciar expectativas, como estratégias eficazes para reduzir o estresse durante as festividades.

A ansiedade é uma condição que afeta uma parcela significativa da população. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), apresentados pelo Conselho Nacional de Saúde, apontam que o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas, com 9,3% da população. 

De acordo com o Manual MSD, a ansiedade representa uma sensação de nervosismo, preocupação ou desconforto, sendo uma experiência considerada normal no contexto humano. Essa condição se manifesta em uma ampla variedade de transtornos psiquiátricos, abrangendo desde o transtorno de ansiedade generalizada até a síndrome do pânico e fobias. Apesar das distintas características dessas enfermidades, todas compartilham a presença de angústia e disfunção intimamente ligadas à ansiedade e ao medo.

Os sintomas da ansiedade podem variar amplamente de pessoa para pessoa, tornando-a uma condição complexa de se entender. No entanto, conforme Drauzio Varella, alguns sintomas mais comuns incluem: 

  • Inquietação;
  • Fadiga;
  • Irritabilidade;
  • Dificuldade de concentração;
  • Tensão muscular;
  • Palpitações;
  • Falta de ar;
  • Taquicardia;
  • Aumento da pressão arterial;
  • Sudorese excessiva;
  • Dor de cabeça;
  • Alteração nos hábitos intestinais;
  • Náuseas;
  • Aperto no peito;
  • Dores musculares.

O poder do final de ano de intensificar a ansiedade

A ansiedade se agrava ainda mais no final de ano e isso não é por acaso. Segundo uma pesquisa da Isma-Brasil (International Stress Management Association – Brasil), o nível de estresse do brasileiro sobe, em média, 75% próximo a épocas festivas. Para a Psicóloga Daniela Pelisson, terapeuta cognitivo comportamental com formação em transtorno de ansiedade pelo Hospital Albert Einstein, esse fator pode relacionar-se ao fato da cultura brasileira, em muitos aspectos, romantizar a ideia de que o final do ano deve ser um período mágico e associar o encerramento de ciclos a uma necessidade de vitória. 

Daniela relata que nessa época os sentimentos de alegria e celebração se misturam com um conjunto de cobranças sobre o ano que se passou e sobre as expectativas sobre o ano que virá e que essa combinação de festividades e expectativas pode acentuar a ansiedade em algumas pessoas e aumentar os casos de estresse e depressão. A narrativa do final de ano e as comparações com as celebrações idealizadas vistas na mídia social podem levar à sensação de insuficiência, reforçando a Síndrome do Final de Ano, caracterizada pela pressão significativa de recriar as festas retratadas em filmes e comerciais e atender às demandas sociais e familiares que se transformam em expectativas inatingíveis e não passam, segundo a terapeuta, de um fardo emocional. 

Diante desse cenário, a psicóloga sugere alguns fatores que motivam essas emoções, baseando-se nas demandas inexistentes em outros meses do ano, como:

  • Cobrança por presentes e falta de dinheiro;
  • Obrigatoriedade de confraternizar com familiares por pressão afetiva;
  • Saudade de pessoas que já faleceram;
  • Necessidade de felicidade e gratidão;
  • Expectativas de janeiro comparadas à realidade de dezembro;
  • Comparações e culpa por coisas não realizadas.

Como lidar com a Síndrome do Final de Ano

Daniela explica que é fundamental reconhecer que a realidade raramente coincide com as imagens idealizadas e que aceitar que os momentos imperfeitos também têm seu valor e que muitas coisas não dependem apenas do indivíduo são os primeiros passos. Assim como o hábito de ressaltar seus aspectos positivos, vitórias e acontecimentos ao longo do ano que foram bons, para aumentar a autoestima e despertar a sensação de contentamento e bem-estar. 

“As expectativas da família, com relação aos planos que deram certo ou não ao longo do ano, são apenas deles e isso não deve gerar mais frustração, culpa ou sensação de fracasso.”, comenta Daniela.

A melhor forma de lidar com isso, segundo recomendação dada pela profissional, é avaliar o impacto na saúde mental ao participar de uma confraternização. Isso inclui trabalhar antes, seja para ignorar ou para não considerar as situações com a importância suficiente para estragar a comemoração.

“Lidar com a ansiedade durante as festas de final de ano exige um conjunto de estratégias que funcionam para cada indivíduo. Não há uma abordagem única, nem uma receita milagrosa, é importante adaptar essas dicas às necessidades pessoais”, diz a psicóloga. 

Os níveis de ansiedade

É complexo determinar o momento em que a ansiedade atinge um nível grave o bastante para ser classificada como um transtorno. A capacidade individual de tolerar a ansiedade é variável, tornando desafiador definir o que deve ser identificado como um grau anormal de ansiedade, de acordo com o Manual MSD

No entanto, quando a ansiedade se torna uma presença constante e impacta negativamente o bem-estar e a qualidade de vida, para a terapeuta, é crucial buscar auxílio especializado de um profissional cadastrado no Conselho Federal de Psicologia. Através de terapias e tratamentos adequados, é possível encontrar alívio e retomar o controle da vida. Para aqueles que estão incertos sobre a gravidade de sua ansiedade, Daniela sugere, ainda, os testes de nivelamento de ansiedade, como o da Escala de Ansiedade Generalizada-7 (GAD-7), que podem oferecer uma primeira abordagem ao  avaliar o nível de ansiedade e podem orientar a decisão de buscar ajuda de um profissional da área, já que não substituem o diagnóstico.