A acne é uma inflamação cutânea extremamente frequente que afeta cerca de 85% da população em algum momento da vida. Caracteriza-se pelo aparecimento de cravos, espinhas, nódulos e cistos, predominantemente no rosto, mas também costas, peito e ombros.
A dermatologista Dra. Renata Castilho comenta que, trata-se de um problema dermatológico comum, normalmente associado à adolescência. Entretanto, a acne pode ocorrer em qualquer fase da vida e devido a vários motivos, incluindo o uso de substâncias e medicamentos. Embora seja comum, a acne precisa ser tratada da forma correta ou pode trazer riscos. Basta lembrar de alguns casos que ganharam o noticiário recentemente.
Em maio, viralizou nas redes sociais a história de Johnathon James, um jovem americano que desenvolveu um quadro de acne severa após tomar anabolizantes. As inflamações eram tão grandes que chegava a causar dores horríveis ao deitar ou se reclinar em uma cadeira.
Recentemente também, diversas celebridades que desfilam pelos tapetes vermelhos com a pele perfeita assumiram publicamente que enfrentam ou já sofreram com o problema. Entre elas estão a atriz Millie Bobby Brown, a modelo Rosie Huntington-Whiteley a cantora Doja Cat e a influenciadora Rafa Kaliman.
Mas afinal, o que causa a acne?
O principal fator para o surgimento da acne são alterações hormonais. É por isso que a condição atinge principalmente os adolescentes. Cerca de 60% das meninas e 70% dos meninos sofrem com cravos e espinhas na puberdade.
Outra principal causa da acne é o aumento da produção de sebo pelas glândulas sebáceas, associado à obstrução dos folículos pilosos e colonização bacteriana. Apesar de acne afetar principalmente adolescentes devido às alterações hormonais da puberdade, que estimulam as glândulas sebáceas, ela também pode afetar adultos por fatores como estresse, uso de certos medicamentos (corticosteroides orais ou tópicos, anticonvulsivantes), cosméticos oleosos e alimentação rica em gorduras ou leite.
Na idade adulta, as mulheres são mais propensas às oscilações hormonais e à acne. Tanto que a acne adulta, aquela que afeta pessoas com mais de 25 anos, costuma ser chamada de acne da mulher adulta, pois afeta 54% das mulheres dessa faixa etária, segundo informações do Journal of American Academy of Dermatology.
“Mas as alterações hormonais não são o único fator para o desenvolvimento da acne na idade adulta. Estresse, tabagismo, alimentação, uso de medicamentos, cuidados com a pele, exposição solar e à poluição e oleosidade são outros fatores de risco.” Destaca a Dra. Renata Castilho.
Tipos de acne
A acne pode ser classificada de acordo com a gravidade em:
•Comedões: popularmente conhecidos como cravos brancos ou pretos. Representam o estágio inicial da acne.
•Pápulas: pequenas lesões inflamatórias, avermelhadas e elevadas.
•Pústulas: conhecidas como espinhas, apresentam pus no centro.
•Nódulos e cistos: lesões maiores, profundas, dolorosas e que podem cicatrizar.
De acordo com estudo realizado pela Academia Americana de Dermatologia, cerca de 20% dos casos de acne são considerados de moderados a graves, com presença de nódulos, cistos e risco de cicatrizes.
Perigos de não tratar a acne
É importante destacar que a acne não tratada pode trazer riscos à saúde além dos impactos psicológicos. A acne é uma infecção e inflamação que pode causar dor e desconforto no paciente se o quadro for muito difuso, e é uma porta aberta para a entrada de bactérias diretamente na circulação sanguínea.
A presença de bactérias na corrente sanguínea pode causar uma condição chamada bacteremia, que é a presença de bactérias no sangue. Isso pode levar a uma infecção generalizada, conhecida como sepse, que é uma emergência médica potencialmente fatal. A sepse pode causar danos aos órgãos, incluindo o coração, cérebro e rins, e pode levar à falência múltipla de órgãos e ao choque séptico. É importante tratar rapidamente a bacteremia e a sepse para evitar complicações graves e, em casos graves, a morte.
A Dra. Renata Castilho alerta que é fundamental evitar espremer as espinhas, pois além de aumentar o risco de cicatrizes, as mãos podem ser uma fonte de contaminação, aumentando a chance de infecção. Também é importante não mexer no rosto, pois isso pode espalhar a sujeira e aumentar a oleosidade.
Para prevenir novos surtos de acne, é importante manter uma rotina de cuidados com a pele e uma alimentação adequada, especialmente para quem tem pele oleosa ou com tendência à acne. Estudos mostram que uma dieta rica em carboidratos aumenta o risco de acne, assim como a ingestão de uma carga elevada de proteína derivada do leite. Portanto, a hidratação e os cuidados alimentares são fundamentais para manter a saúde da pele e prevenir a acne.
Tratamentos para acne
O tratamento da acne depende da gravidade do quadro e dos fatores envolvidos. Pode ser realizado com:
•Tratamento tópico: indicado para casos leves, inclui produtos com peróxido de benzoíla, ácido salicílico e/ou antibióticos (eritromicina, clindamicina) para reduzir a inflamação e controlar a colonização bacteriana.
•Antibióticos orais: para casos moderados, são utilizados por 3-4 meses. Os mais comuns são doxiciclina, minociclina e azitromicina.
•Isotretinoína oral: indicada para acne nodular-cística e resistente a outros tratamentos. É o tratamento mais eficaz, porém exige rigoroso controle médico devido aos efeitos colaterais.
•Procedimentos dermatológicos: drenagem de abscessos, cauterização de glândulas sebáceas, peeling químico e laser podem ser utilizados para reduzir sequelas e melhorar a aparência da pele.
Independentemente de ser tópico ou oral, é fundamental que o tratamento da acne seja prescrito por um dermatologista. Pode parecer preciosismo, mas a automedicação, mesmo com o uso de produtos tópicos pode envolver riscos. Os principais são: eczema, alergia, irritação, ressecamento excessivo e efeito rebote.
Cuidados e prevenções
•Manter a higiene da pele com sabonete e água morna para remover excesso de oleosidade, sem irritar a pele.
•Usar produtos oil-free e não-comedogênicos que não obstruam os folículos pilosos.
•Não espremer as lesões para evitar infecções e cicatrizes.
•Seguir uma dieta balanceada, evitando excesso de carboidratos refinados, leite e derivados.
•Reduzir estresse com atividade física, ioga, meditação. O estresse libera hormônios que podem agravar a acne.
•Usar protetor solar diariamente, pois a radiação UV também estimula a produção de sebo.
•Consultar um dermatologista regularmente para avaliar a necessidade de tratamento medicamentoso preventivo nos períodos de maior atividade das glândulas sebáceas, como na adolescência.
“Com um diagnóstico e tratamento precoces, é possível controlar a acne e evitar sequelas. Cuidar da pele e seguir as recomendações de prevenção também ajudam a manter a acne sob controle, melhorando a autoestima e qualidade de vida.” Finaliza a Dra. Renata Castilho.
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