Brasil é um dos cinco países com a taxa mais elevada de feminicidio, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Ainda que a participação das mulheres em cargos antes dominados por homens esteja crescendo nas bases e nas lideranças, a violência contra essa população continua alarmante. Somente no Amazonas, de 2019 a 2022, foram registrados mais de 11 mil casos de violência doméstica, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM).
Com a pandemia e as suas restrições, os casos evoluíram com maior intensidade. Enquanto no primeiro ano, em 2019, foram mais de 2 mil casos, em 2022, esse número deu um salto para 3 mil casos. O mês de setembro de 2021, foi um mês atípico, pois apresentou o menor registro de casos confirmados durante os últimos quatro anos, com apenas nove registros.
Os dados no interior são ainda mais preocupantes. De 2019 para 2022, o número de casos subiu de três para 486. Segundo a titular da Delegacia Especializada em Crimes Contra Mulher (DECCM), Debora Mafra, a causa da violência doméstica é o histórico do país, até mesmo cultural.
“Hoje, temos essa quantidade de casos em razão do machismo histórico do nosso país. Os meninos, querendo ou não, são ensinados a serem violentos e agressivos com as mulheres, dessa forma, essa criança cresce e se torna um homem machista e criminoso. É um ciclo no Brasil”, comentou.
“A violência contra a mulher é uma prática naturalizada”
Para socióloga e professora na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Iraildes Caldas Torres, 58, a violência doméstica contra as mulheres ainda está longe de uma solução definitiva para o problema, mas, contra essa prática, ela avalia que há medidas preventivas para diminuir os números negativos.
“A violência contra a mulher não é um fenômeno, é uma prática rotineira naturalizada que banaliza a vida das mulheres. É uma ferida aberta para a qual não se apresentam soluções, uma endemia capilarizada na sociedade. As medidas preventivas devem ser as políticas públicas para as mulheres: emprego, geração de renda, educação, acessos aos espaços institucionais, equidade salarial entre homens e mulheres”, explicou.
Apoio e proteção
Entre as políticas de proteção às mulheres, em Manaus, há 9 unidades de serviços de atendimento especializados a elas. Mas, além dos serviços, é necessário a reeducação de crianças, diz Mafra.
“O papel destas unidades em defesa e proteção das mulheres é dar o amparo integral e necessário para que as mulheres se sintam seguras para sair do ciclo de violência doméstica. Mas, temos que educar nossas crianças para que tenham um novo pensamento sobre a mulher, no sentido de erradicar a violência”, disse.
Sendo um dos programas de enfretamento à violência contra a mulher, o Centro Estadual de Referência e Apoio à Mulher (CREAM), da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc), oferece apoio e políticas de proteção à mulher, com cerca de 140 atendimentos por dia.
“Trabalhamos diariamente com mulheres vítimas de violência, sejam elas cis ou trans, na afetividade que for o relacionamento. O Sapem [Serviço de Apoio Emergencial à Mulher] é a nossa porta de entrada para que essas vítimas tenham o amparo necessário em um momento tão delicado e temos uma unidade que funciona 24 horas por dia, porque sabemos que a violência pode acontecer a qualquer hora”, observou a secretária da Sejusc, Jussara Pedrosa.
Além do Sapem, a Sejusc trabalha com o aplicativo Alerta Mulher, que monitora mulheres que estão em risco de morte.
Casos de violência no Amazonas
Em maio de 2022, um homem de 41 anos foi preso suspeito de agredir a esposa, em Manaus. No mesmo mês, uma mulher, no bairro Japiim, foi assassinada com pedradas no rosto. Em Borba, o prefeito Simão Peixoto, foi preso na última semana por crime de violência política contra a vereadora Tatiana Franco dos Santos, segundo o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM).
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