Superman de Gunn é o que os filmes da DC estavam precisando há muito tempo

Superman de Gunn é o que os filmes da DC estavam precisando há muito tempo

Durante anos, a Warner tentou desesperadamente correr atrás do sucesso que a Marvel alcançou com suas adaptações em live-action. Os filmes da DC tiveram seus momentos, mas nunca conseguiram formar um universo coeso ou que parecesse verdadeiramente intencional. Por muito tempo, a sensação era de que o estúdio simplesmente não sabia como sair de um ciclo caro e artisticamente vazio.

A situação chegou a um ponto tão crítico que a Warner decidiu recomeçar do zero, criando um novo universo cinematográfico sob o comando de James Gunn e Peter Safran. Parecia uma aposta arriscada, tanto pelo histórico do estúdio quanto pelo desgaste do público com filmes de super-heróis. Mas, por mais duvidosa que essa aposta parecesse no início, o novo filme do Superman, dirigido por Gunn, é a prova clara do que a DC pode fazer quando coloca os caras criativos certos no comando.

Assim como as melhores histórias em quadrinhos, o novo “Superman” é grandioso e, ao mesmo tempo, simples. O filme parte do pressuposto de que você já conhece os elementos básicos do personagem, mas traz elementos pouco explorados do seu universo que são verdadeiros presentes para o público. Mesmo repetindo algumas batidas clássicas de filmes anteriores, ele faz isso com um estilo moderno e encantador, que se distancia bastante do que a DC vinha apresentando nos últimos anos.

É o tipo de filme que a Warner deveria ter feito desde o início: romântico, divertido e com um toque de leveza na medida certa. Sua mensagem sobre como os imigrantes tornam os Estados Unidos um lugar mais rico e vibrante também chega em um momento extremamente relevante.

Superman com alma, carisma e conflito – No novo filme, Superman (David Corenswet) já é conhecido por salvar vidas e impedir desastres, mas pouca gente sabe que ele também é o atrapalhado repórter Clark Kent. Existem algumas razões bem criativas e tiradas dos quadrinhos mais clássicos  para que as pessoas não o reconheçam sem os óculos, mas essa dualidade é algo que Lois Lane (Rachel Brosnahan), sua colega no Planeta Diário, entende muito bem.

Seus outros colegas, como Perry White (Wendell Pierce) e Jimmy Olsen (Skyler Gisondo), até desconfiam, mas com tantos ataques de alienígenas e monstros acontecendo em Metrópolis, ninguém tem tempo (ou cabeça) para ligar os pontos.

A condição alienígena de Superman é uma obsessão para Lex Luthor (Nicholas Hoult), um bilionário que acredita que suas invenções tecnológicas são a resposta para todos os problemas da humanidade. Lex nunca admitiria, mas é praticamente um fã obcecado do herói, e sua vontade de destruí-lo nasce de uma insegurança profunda e inveja evidenciada, algo que nem sua namorada Eve Teschmacher (Sara Sampaio) consegue amenizar.

Mesmo sendo constantemente noticiado por salvar pessoas, Superman já está acostumado com a rejeição. Mas ainda assim, o incomoda perceber o olhar desconfiado dos membros da “Gangue da Justiça”, um grupo de heróis ainda iniciante, formado por Senhor Incrível (Edi Gathegi), Lanterna Verde Guy Gardner (Nathan Fillion) e pela Mulher Gavião (Isabela Merced).

Visual ousado, energia vibrante e ação em alta escala – Desde os primeiros minutos, é possível perceber o quanto James Gunn entende a essência dos quadrinhos da DC. Tudo no filme é intensificado. Cores, efeitos, cenas de ação, quase como uma animação viva, mas sem nunca parecer exagerado ou infantil. É exatamente o tipo de estética que adapta bem o espírito das HQs.

A Gangue da Justiça ainda é pequena. Então, quando um kaiju criado por Lex começa a destruir Metrópolis, Superman é o único capaz de enfrentá-lo. E a luta exige dele tudo o que tem de força e mais um pouco para proteger a cidade.

Esse monstro é apenas uma das muitas tentativas de Luthor de virar a opinião pública contra o herói. O roteiro reforça diversas vezes que Superman sempre representou o arquétipo do imigrante: por mais que faça o bem, há sempre quem o veja como um invasor. Mesmo parecendo e agindo como um americano, ele é tratado como alguém de fora, um paralelo poderoso com temas sociais do mundo real.

Essa ideia fica ainda mais forte nas cenas em que Clark volta para Smallville, Kansas, para visitar seus pais adotivos, Martha (Neva Howell) e Jonathan Kent (Pruitt Taylor Vince). O amor simples dos Kents é o que inspira Superman a proteger os outros, não por ser um herói, mas porque ele aprendeu com eles o que é humanidade.

Romance, humor e alma: O filme também mostra que esse universo está repleto de outros metahumanos. Alguns que se tornarão heróis, e outros, como a Engenheira (María Gabriela de Faría), que trilham o caminho da vilania. Gunn acerta em cheio ao mostrar as cenas de ação como verdadeiras fantasias de poder, ao mesmo tempo em que mantém o Clark Kent como um rapaz do interior apaixonado por uma mulher determinada e inteligente.

A relação entre Clark e Lois é propositalmente meio brega, mas no melhor sentido. O romance lembra os tempos dourados dos quadrinhos clássicos e contrasta totalmente com o tom sombrio da era Snyder. É divertido, leve, carismático e traz de volta algo que o gênero estava precisando: intimidade e emoção verdadeira.

Um recomeço promissor: Apesar com meu incômodo com a mudança do seu envio à terra, Superman, de James Gunn, é uma base sólida para essa nova fase do universo DC. O desafio agora será manter o mesmo nível de energia, criatividade e emoção nas próximas produções já anunciadas pelo estúdio.

Superman sempre foi o coração da DC, e este filme prova que, com a abordagem certa, seus personagens podem emocionar, entreter e inspirar. Resta ver se a DC conseguirá manter esse ritmo. Mas, se depender deste início, o futuro finalmente parece promissor.

 

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