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Preconceito enraizado dificulta avanço profissional feminino

Mesmo com mais escolaridade, as mulheres enfrentam índices mais altos de desemprego no Brasil. Profissionais relembram desafios na carreira, destacam os avanços e pontuam o papel das empresas na luta pela equidade

No Brasil, 84,5% das pessoas têm ao menos um preconceito contra mulheres e 31% acreditam que os homens têm mais direito ao trabalho ou que homens fazem melhores negócios. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, as mulheres terminaram o ano de 2023 com desemprego em 9,2%, número 53,3% maior do que o dos homens — que registraram a taxa de 6% — ainda que 19,4% delas, com 25 anos ou mais, tenham nível superior completo e somente 15,1% dos homens possuam a mesma formação.

Diante do cenário sociocultural que se apresenta como um desafio para o crescimento profissional das mulheres, o evento “Metaverso Feminino” realizado pelas empresas GT7 — Unidade de Negócios da TODOS Empreendimentos, focada em inovação e crescimento acelerado — e Gotcha — hub de negócios e comunicação — reuniu, na última semana, lideranças femininas para discutir como avançar na pauta da equidade de gênero no mercado de trabalho.

Idealizado por Nathália Queiroz, Gerente de Projetos da GT7 e com a moderação de Gisleine Durigan, Head de PR da Gotcha e Margareth Furtado, Head de Social da Gotcha, o evento contou com a participação de lideranças das Unidades de Negócio do Grupo TODOS e de iniciativas parceiras, além da jogadora de futebol Andressa Cavalari, ou Andressinha, como é conhecida a meio-campista do Palmeiras. Ao final do evento, Ellen Murray, Especialista em Carreiras da Refuturiza e Nara Alves, da ONG Planeta de TODOS também contribuíram com participação em vídeo.  

Como foi para chegar até aqui?

“Por que não eu?”, questionamento simples, mas potente, acompanha Mira Gatto quase como um mantra para que se lembre de sua competência e seu preparo para conquistar espaço no mercado de trabalho. 

Mira é Gerente Geral da rede de academias Allp Fit, mas até chegar ao cargo de liderança, enfrentou muitos obstáculos. Ainda durante sua primeira graduação, Mira relata que foi quando passou a sentir o peso do machismo na profissão que escolheu. “No curso de educação física, 70% eram homens e quando fui para o mercado de trabalho, piorou, porque as pessoas vêem a mulher neste cenário somente com um olhar de culto ao corpo. Hoje, lidero muitos homens e preciso vestir uma capa e assumir uma postura firme para ser respeitada”, afirma.

Publicitária há 40 anos, Cláudia Kalim, co-CEO da Gotcha, lembra que já enfrentou muitos desafios ao longo do tempo. Para ela, ter convivido com mulheres fortes em sua trajetória ajudou para que pudesse assumir as rédeas da sua vida profissional. “Eu percebo uma grande evolução no respeito às mulheres nestes anos. No início da minha vida profissional, eu presenciei muitas situações de misoginia, mas também vi a postura forte de colegas de trabalho que não deixavam se intimidar e isso foi inspirador para mim”, recorda Kalim. 

Para Andressa Cavalari, meio-campista do Palmeiras, ter conseguido se profissionalizar como jogadora foi uma vitória. “Lembro que uma vez na escola, a professora perguntou qual profissão a gente queria seguir e eu tive vergonha de dizer que queria ser jogadora de futebol. Eu sempre inventava outras profissões”, conta Cavalari. 

“Se eu engravidar, vou perder o emprego”

O medo do retorno após a licença-maternidade foi apontado como um receio por todas as palestrantes. “Eu já sofri isso na pele, no passado, sei o quanto dói. No geral, vejo que as empresas estão mudando em relação a isso, mas precisamos evoluir muito ainda”, ressalta Mariana Rangel, Diretora de Marketing na GT7. 

Cláudia Kalim relembra que quando engravidou, ainda não tinha uma bagagem profissional e pessoal que a impedisse de viver um retorno traumático para o trabalho. “Quando engravidei do meu filho, fui pressionada para retornar ao trabalho quando ele tinha três meses. Eu deixei de viver coisas importantes com o meu filho e isso me violentou, me marcou para a vida”.

Para Andressa Cavalari, hoje o esporte também tem sido mais cuidadoso com a forma como lida com a maternidade. “Eu sinto que estamos um pouco mais protegidas em relação à gravidez, hoje. Não há pressão para não engravidar”.

Jéssica Souza, Gerente de Marketing do AmorSaúde, acredita que a solução para um mercado de trabalho com equidade precisa levar em conta as vivências de cada pessoa. “Uma colaboradora nossa tem filhos e todas as vezes em que precisávamos fazer uma videochamada o bebê chorava e interrompia, mas para gente isso nunca incomodou”. A Gerente de Marketing conta que quando aconteceu em reuniões com clientes, pensou em soluções. “Chamei colaboradoras que têm filhos para pensarmos como poderíamos agir naquela situação. Juntas, nós mudamos a metodologia de trabalho dela e ficou claro que as soluções precisam ser construídas de forma coletiva”.

Como mudar o cenário?

Para Mariana, as empresas devem participar ativamente da mudança do mercado de trabalho, a luta não pode ser somente das mulheres e individualmente. “Para que a evolução aconteça, a gente precisa das empresas e das lideranças para promover mudanças internas. Quando a alta liderança assume que a diversidade tem valor e faz parte da cultura da empresa, nós ganhamos mais velocidade para avançar”.

Cláudia Kalim aponta que é necessário acolhimento. “As empresas têm de construir ambientes seguros para que as mulheres se sintam acolhidas para se posicionarem e tenham a confiança de que podem conquistar mais. Nós queremos e precisamos nos sentir protegidas contra o assédio e o machismo”.

“Cresci ouvindo minha mãe dizer que eu podia alcançar tudo o que quisesse. Ela é uma mulher negra, do interior do nordeste, e fugiu para Salvador para poder estudar”. Afirma Jéssica Souza, que relembra também que a mãe lhe mostrou que era possível mudar a própria realidade. “Eu vim do nada, do absoluto nada. A realidade que eu vivo hoje é completamente diferente do que vivi antes e minha mãe está muito feliz hoje por tudo o que construí, ela é minha fortaleza”.  

Nathália Queiroz, idealizadora do evento, enxerga que a mesa-redonda é um exemplo de ação que contribui para o avanço da pauta de equidade de gênero no mercado de trabalho. “Hoje eu estou em uma empresa em que me sinto segura para falar e me posicionar, e só por isso estamos participando deste evento. Conquistamos muito, mas não paramos por aqui”.