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Pesquisa revela que ainda é alto o índice de lesbofobia no país

No mês em que se celebra o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, especialistas apontam urgência de políticas públicas que consideram as interseccionalidades dessa população

O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica é celebrado em 29 de agosto como uma forma de chamar a atenção para as demandas das mulheres lésbicas, além de fortalecer o enfrentamento às violências e ao preconceito. Dados do I LesboCenso Nacional: Mapeamento de Vivências Lésbicas no Brasil revelam como a data ainda é essencial, 27 anos após sua criação. A pesquisa aponta que 79% das mulheres entrevistadas já sofreram algum tipo de lesbofobia. Entre os atos mais recorrentes, aparecem assédio moral, assédio sexual e violência psicológica.

O levantamento foi realizado pela Liga Brasileira de Lésbicas, em parceria com a Associação de Lésbicas Feministas de Brasília – Coturno de Vênus. A pesquisa ouviu 22 mil mulheres lésbicas de todo o país durante o ano de 2022 e aponta como o preconceito também interfere no tratamento de saúde dessas pessoas. De acordo com os dados, 25% das mulheres ouvidas já sofreram discriminação em atendimento ginecológico. A grande maioria, 73%, relata sentir medo, receio ou constrangimento em falar que é lésbica durante as consultas.

Para Amalia Fischer, cofundadora e diretora-geral do fundo ELAS+ Doar para Transformar, há muitos avanços na luta pela visibilidade lésbica no Brasil. Para ela, as mulheres se fortaleceram nas últimas décadas e assumiram a liderança de muitas iniciativas que atuam em favor da transformação social e no combate ao preconceito. No entanto, a especialista lembra que ainda há um caminho a percorrer. “Ao se pensar as demandas de pessoas LBTIs, é muito comum seguirem pelo viés da saúde, como prevenção à HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis. Mas somos seres integrais, precisamos chamar atenção para todos os outros aspectos das nossas vidas que também são atravessados pelos preconceitos”, avalia Amalia.

Interseccionalidades

Situações de lesbofobia no ambiente de trabalho e também na família ainda são comuns, de acordo com o Mapeamento de Vivências Lésbicas no Brasil. A pesquisa mostra que 40% das mulheres já sofreram assédio moral ou violência institucional. Além disso, 92% das entrevistadas afirmaram que já foram interrompidas no momento em que iriam falar, e 36% já foram impedidas de sair de casa.

A gerente de Programas e integrante do colegiado executivo do ELAS+, Savana Brito, avalia que esses índices demonstram na prática a interseccionalidade das vivências de mulheres lésbicas. “Além dos estigmas da orientação afetivo-sexual, somos atingidas pelas violências de gênero. E não podemos esquecer das demandas das mulheres lésbicas negras, que são também afetadas pelo racismo. É urgente pensar em políticas públicas de forma ampla e abrangente, e apoiar mulheres lésbicas para que ocupem cada vez mais espaços de decisão”, conclui Savana.

Histórico

O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica foi criado a partir do 1º Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE), realizado no Brasil em 29 de agosto de 1996. O encontro é considerado um marco histórico para o movimento LBTI no país, ao discutir temas como organização coletiva, saúde e visibilidade das mulheres lésbicas. O evento foi organizado por Neusa das Dores Pereira, ativista dos direitos humanos e liderança reconhecida entre os movimentos de lésbicas e de mulheres negra.

Neusa também é uma das cinco mulheres lésbicas que fundaram o ELAS+, fundo que tem a missão de fortalecer o protagonismo e os direitos das mulheres e das diversas transidentidades. Ao longo de 2022, o ELAS+ apoiou 270 iniciativas lideradas mulheres cis, trans e outras transidentidades – 159 dessas lideranças são pessoas LBTIs.