O PT vive uma disputa interna no Paraná por uma vaga no Senado. A presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, e o líder da sigla na Câmara, Zeca Dirceu, pleiteiam a preferência nas articulações regionais e enfrentam a concorrência do ex-senador Roberto Requião. Ele ameaça deixar a legenda caso não seja o candidato a uma hipotética vaga no Senado.
A disputa se dá em meio à possibilidade de cassação do senador Sergio Moro (União-PR). Moro foi condenado pelo Conselho de Ética do Senado por quebra de decoro parlamentar em razão de suas declarações sobre o caso Celso Daniel. Caso a cassação seja confirmada pelo plenário do Senado, uma vaga ficará disponível na Casa.
O PT é o segundo partido com mais votos no Paraná e tem boas chances de conquistar a vaga. No entanto, a disputa interna pode dificultar a vitória do partido. Gleisi Hoffmann e Zeca Dirceu são apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto Requião é um crítico do ex-presidente.
Requião já disse que deixará o PT caso não seja o candidato a uma hipotética vaga no Senado. Ele é um político experiente e tem uma base de votos significativa no Paraná. Sua saída do PT seria um duro golpe para o partido.
A disputa interna do PT no Paraná é um reflexo da polarização política que o país vive. O partido está dividido entre os apoiadores de Lula e os críticos do ex-presidente. Essa divisão pode dificultar a vitória do PT nas eleições de 2023.
Requião, que concorreu ao governo do Paraná em 2022 pelo PT em um palanque com Lula, alega ter sido isolado devido a um suposto “acordo velado” entre o governador reeleito Ratinho Jr. (PSD) e caciques petistas no estado. O ex-senador também esteve no páreo para assumir a presidência da usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), mas perdeu a queda de braço para Gleisi, que emplacou no posto o ex-deputado Enio Verri, seu aliado.
‘Parece que tem dono’
Embora aliados de Requião classifiquem Gleisi como o “principal obstáculo” do ex-senador, também há ressentimentos com Zeca Dirceu devido à amizade deste com Ratinho Jr. Na última campanha, o ex-ministro José Dirceu, pai de Zeca e um dos aliados mais antigos de Lula, se encontrou com o governador do Paraná e tentou aproximá-lo do atual presidente.
Cientes da concorrência interna, Gleisi, Requião e Zeca Dirceu já se colocaram à disposição para disputar uma vaga no Senado que, por ora, não existe. A cúpula petista conta com resultados desfavoráveis para Moro em julgamentos no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por supostos gastos irregulares na pré-campanha de 2022. Os casos são frutos de ações apresentadas por PT e PL, e podem levar à cassação do ex-juiz, o que forçaria uma eleição suplementar ao Senado.
— Requião seria um nome natural (ao Senado), já que o PT nunca teve uma votação tão alta ao governo quanto em 2022. Mas é um partido complicado, parece que tem dono. A bancada federal age como se tivesse medo que a gente ganhe espaço —criticou o deputado estadual Maurício Requião, filho do ex-senador e líder do PT na Assembleia Legislativa do Paraná.
A depender do cronograma da Justiça Eleitoral, uma eventual eleição suplementar poderia ocorrer junto com a corrida municipal do ano que vem. Correligionários no PT avaliam que o filho de Dirceu, que tem menos bagagem política do que Gleisi e Requião, busca se cacifar à prefeitura de Curitiba e, por isso, está aberto a alianças com os concorrentes.
Um interlocutor de Requião avalia que “não seria um problema” apoiar Zeca na eleição municipal, mas pondera que os atritos internos tornam incerto o futuro do ex-senador no PT. Requião vem conversando com Rede e Solidariedade sobre uma possível filiação para disputar o Senado.
Em meio à movimentação no Paraná, Gleisi e Zeca Dirceu vêm acumulando arestas. O líder do PT na Câmara tem relação conturbada com o também deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), namorado de Gleisi. Após terem concorrido pela liderança do partido na Casa, Zeca vetou a presença de Lindbergh entre os membros titulares da CPI dos Ataques Golpistas. Nos bastidores, ele alegou que o colega vinha se excedendo em críticas à pauta econômica do governo. A explicação não foi bem digerida no entorno de Gleisi.
De O Globo.
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