A ampla divulgação de informações falsas é um dos maiores problemas a serem enfrentados no Brasil. Atualmente, o Congresso Nacional discute o avanço do Projeto de Lei 2630 e o Governo Federal criou uma Secretaria de Políticas Digitais. No Amazonas, especialistas defendem que a educação midiática esteja mais inserida no dia a dia das escolas da rede pública do estado e do município.
A educação midiática é a capacidade de ler, interpretar e criticar conteúdos em mídia, ou seja, fotografias, publicidades, vídeos, textos noticiosos, opinativos etc. O estudo está incluso na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), mas ainda é pouco aplicado nas salas de aula. Para o jornalista Gabriel Veras, especialista em semiótica e Análise do Discurso, é necessário investir numa política pública feita
coletivamente.
“Esse ecossistema de mentiras tem contribuído para o avanço do desmatamento, das queimadas, para ataques contra os órgãos de controle e proteção. É importante que os estudantes estejam aprendendo, desde o ensino fundamental, a como identificar uma fake news e como combater a desinformação”, defende.
O jornalista é co-fundador da Abaré – Escola de Jornalismo. O coletivo promove, no dia 27 de maio, o festival Manaus Contra a Desinformação, com a presença de professores, comunicadores populares, jornalistas, estudantes e ambientalistas. O engenheiro ambiental Yago Santos, do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), explica que o evento vai tocar em pontos importantes do combate à desinformação ambiental, algo que ele também espera que incentive o uso do tema por professores
da rede pública.
“Nós temos múltiplas crises ambientais no presente que colocam muitas vidas em risco. A desinformação ambiental prejudica as ações necessárias para lidarmos com isso, atrasando-as, criando falsas dúvidas e direcionando recursos sem considerar as evidências”, afirma.
Um levantamento feito pela Comscore, empresa especializada em análise de internet, o Brasil é o terceiro maior consumidor de redes sociais do mundo. Dessa forma, a população está recebendo cada vez mais informações pelas plataformas, sem nenhum tipo de regulamentação.
A jornalista Ariel Bentes, pesquisadora no Repórteres Sem Fronteiras, afirma que Manaus é uma cidade constantemente atingida por desinformação. “No Brasil temos inúmeros exemplos de como a desinformação provocou atos violentos e Manaus está inserida nessa realidade. Seja quando os supermercados ficaram lotados após um boato de lockdown durante a pandemia ou quando negacionistas propagavam mensagens contra a vacina da Covid-19. A gente precisa debater sobre o assunto a partir da educação midiática”, diz.
Em Manaus, ao menos 68 adolescentes foram apreendidos suspeitos de envolvimento em ameaças de ataques contra as escolas. O delegado Denis Pinho explicou, à época, que alguns mantinham perfis e páginas em redes sociais, em que compartilhavam ameaças. A jornalista Ariel Bentes explica que a educação midiática precisa estar nas escolas para ensinar os adolescentes a usarem as redes sociais e se protegerem.
“Educação midiática precisa estar nas escolas do Amazonas para combater fake news, a nível nacional já temos alguns projetos de leis e grupos de trabalho, mas essa discussão está sendo feita pelo poder público e pela população no Amazonas? Precisamos trazer a discussão para mais perto”, diz.
Mobilização coletiva
O evento organizado pelo coletivo Abaré – Escola de Jornalismo tem na programação palestras sobre: o que é educação midiática, como colocar a educação midiática nas salas, qual a importância do jornalismo independente no estado e os danos da desinformação ambiental.
As inscrições para o evento já foram encerradas, mas é possível se inscrever na hora. O evento ocorre das 8h30 às 19h, no Impact Hub, Avenida Ephigênio Salles, zona Centro – Sul de Manaus. O evento tem parceria e apoio do coletivo Puxirum do Bem Viver, Intervozes, Ponta de Lança, Instituto Socioambiental, Repórteres Sem Fronteiras, Cepecompany e Minha Manaus.
Os convidados incluem os professores Kiandro Neves, Bárbara Harianna e André de Oliveira. Entre os jornalistas convidados estão: Fred Santana, Bruno Tadeu, Luciana Santos, Viviane Tavares, Kel Baster e Bruna Santos. Os coletivos Caxiri, Puxirum e Rede Waayuri, que trabalham com a pauta ambiental, também foram convidados.
“As múltiplas contribuições partindo de diferentes pontos de vista devem gerar críticas boas que são necessárias para enfrentar a desinformação em qualquer área. Será um passo importante para melhorar a nossa forma de pensar o problema
de maneira mais coletiva”, diz Yago Santos.
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