Um júri de Nova York declarou o ex-presidente americano Donald Trump culpado, nessa quinta-feira (30), de ter ocultado pagamentos a uma ex-atriz pornô, um terremoto para a sua campanha, a cinco meses das eleições nas quais pretende voltar à Casa Branca.
O histórico primeiro julgamento criminal contra um ex-presidente dos Estados Unidos terminou com Trump, 77 anos, declarado culpado das primeiras 34 acusações por falsificação em documentos contábeis para ocultar um pagamento destinado a silenciar a ex-atriz pornô Stormy Daniels.
O republicano, que saiu da audiência em liberdade, sem pagar fiança, pode ser condenado a quatro anos de prisão por cada acusação, mas é mais provável que receba a liberdade condicional.
Mesmo assim, Trump não está impedido de continuar com sua batalha para derrotar o presidente Joe Biden na revanche eleitoral, mesmo no caso improvável de que vá para a prisão.
Seu advogado, Todd Blanche, disse que sua equipe estava preparando uma apelação “assim que for possível”.
O próprio Trump mostrou-se confiante. “Sou um homem muito inocente”, disse aos jornalistas, prometendo que o “veredicto real” será dado pelos eleitores em 5 de novembro, data das presidenciais. Ele tachou o julgamento de “armado” e o considerou uma “desgraça”.
O veredicto põe os Estados Unidos em um território político desconhecido, à espera de que o juiz de instrução Juan Merchan fixe a sentença em 11 de julho, dias antes da Convenção Nacional Republicana em Milwakee, onde Trump receberá a nomeação formal do partido.
A campanha de Biden publicou um comunicado no qual destaca que o veredito contra Trump mostra que “ninguém está acima da lei” e que as urnas serão “a única forma de manter Donald Trump fora do Salão Oval”.
Em nota, a Casa Branca reagiu dizendo que respeita o “Estado de direito” e que não tem “nenhum comentário adicional”.
Decisão do júri
O júri de 12 membros deliberou por mais de 11 horas, durante dois dias, após um julgamento de cinco semanas em uma sala de audiências de Manhattan.
Merchan, a quem o ex-presidente chamou de “corrupto” ao longo do julgamento, inclusive na manhã desta quinta-feira, agradeceu aos jurados por darem ao caso “a atenção que merecia”.
A identidade dos jurados, sete homens e cinco mulheres, foi mantida em sigilo, para protegê-los das tensões políticas.
Pouco antes de anunciar que haviam chegado a um veredito, os jurados se retiraram da sala para deliberar a portas fechadas, e pediram para revisar os depoimentos de dois protagonistas-chave do caso, o ex-diretor de um tabloide próximo de Trump, David Pecker, e o ex-advogado pessoal e homem de confiança do ex-presidente, que se tornou a principal testemunha de acusação do caso, Michael Cohen.
Seus depoimentos se referem, particularmente, a uma reunião que mantiveram com Trump, em agosto de 2015, na Trump Tower, em Nova York, onde teriam concebido um plano para evitar qualquer possível escândalo que afetasse o futuro candidato à Casa Branca, mesmo se isso implicasse pagar por silêncio.
“Um dia importante”
Trump foi declarado culpado de falsificar registros contábeis para reembolsar seu advogado, Michael Cohen, pelo pagamento de 130 mil dólares (R$ 675 mil, na cotação atual) para Daniels antes das eleições de 2016, com o qual queria abafar um eventual escândalo sexual que poderia afetar gravemente sua campanha.
Os promotores demonstraram com sucesso que o ocultamento ilegal do pagamento fez parte de um crime mais amplo para evitar que os eleitores conhecessem o comportamento de Trump.
Cohen, testemunha-chave no julgamento, qualificou o veredicto como “um dia importante para a prestação de contas e o Estado de direito”.
Trump negou ter tido qualquer encontro sexual com Daniels, mas não depôs em defesa própria.
Campanha do banco dos réus
Obrigado a comparecer a todas as audiências, Trump usou sua presença para difundir sua afirmação de que o julgamento é um estratagema democrata para mantê-lo fora da campanha eleitoral.
Pouco após a divulgação do veredicto, sua campanha fez um chamado para arrecadação de fundos, intitulado “Sou um preso político!”
Keith Gaddie, analista político e professor da Universidade Cristã do Texas, disse que o impacto político dos últimos acontecimentos ainda está em aberto.
Além do caso em Nova York, Trump foi acusado em Washington e na Geórgia de conspiração para anular os resultados das eleições de 2020.
Ele também é acusado, na Flórida, de ter levado grandes quantidades de documentos sigilosos para a sua residência após deixar a Casa Branca.
Adicionar comentário