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Tecnologia

Quem são os profissionais que recebem até R$ 1,7 milhão para treinar a IA

Foto: Bloomberg

Todo mundo está falando sobre a inteligência artificial por trás do ChatGPT. Menos notado é um mercado de empregos crescendo rapidamente em torno da tecnologia, onde essas funções recém-criadas podem pagar mais de US$ 335 mil por ano (R$ 1,7 milhão). E, para muitos, um diploma de engenharia da computação é opcional.

Eles são chamados de “engenheiros de prompt”, ou “treinadores de IA”, pessoas que passam o dia guiando modelos de linguagem como o GPT a gerar respostas mais específicas e relevantes para determinados tipos de perguntas.

Trata-se a princípio de dar comandos, dos mais simples aos mais específicos, para se atingir um resultado desejado. Uma diversidade de habilidades e conhecimento é fundamental para esses novos “engenheiros”.

Mais de uma dúzia de sistemas da nova era da inteligência artificial generativa, chamados modelos de linguagem de grandes dimensões, ou LLMs, foram criados por empresas como a Alphabet, controladora do Google, OpenAI e Meta (dona do Facebook e do Instagram).

A tecnologia passou rapidamente de experimentos em laboratório para o uso prático dessas ferramentas, com empresas como Microsoft integrando o ChatGPT em seu motor de busca Bing e ferramenta e GitHub oferecendo seu motor de desenvolvimento de software aos usuários.

À medida que a tecnologia prolifera, muitas empresas descobrem que precisam de alguém para adicionar rigor aos seus resultados.

É como um ” sussurrador de IA”, diz Albert Phelps, engenheiro da Mudano, parceira da consultoria Accenture em Leytonstone, Inglaterra.

– Muitas vezes, você terá como “engenheiros de prompt” com formação em História, Filosofia, Línguas, porque se trata de organizar palavras e ideias. Você está tentando destilar a essência ou o significado de algo em um número limitado de palavras.

Aos 29 anos, Phelps estudou História na Universidade de Warwick, perto de Birmingham, Inglaterra, antes de iniciar sua carreira como consultor de bancos como Clydesdale Bank e Barclays, ajudando a resolver problemas relacionados a riscos e regulamentações.

Uma palestra no Alan Turing Institute, financiado pelo governo do Reino Unido para inteligência artificial, foi sua inspiração para pesquisar sobre IA.

Ele e seus colegas passam a maior parte do dia enviando instruções para ferramentas como o ChatGPT da OpenAI, que podem ser salvas como predefinições.

Um dia típico na vida de um “engenheiro de prompt” envolve lidar com cinco modelos de linguagem diferentes, com cerca de 50 interações com o ChatGPT, diz Phelps.

É muito cedo para saber o quão difundida a “engenharia de prompt” é ou se tornará. O paradigma surgiu em 2017, quando pesquisadores de IA criaram LLMs “pré-treinados”, que poderiam ser adaptados a uma ampla gama de tarefas com a adição de uma entrada de texto humano.

No ano passado, LLMs como o ChatGPT passaram estar disponíveis para milhões de usuários – e toda vez que alguém usa essas ferramentas acaba, na prática, fazendo algum tipo de “engenharia de prompt” sempre que faz um comando para a máquina.

Empresas como a Anthropic, uma startup apoiada pela Google, estão anunciando salários de até US$ 335 mil ao ano (R$ 1,7 milhão) para um cargo de “engenheiro de prompt e bibliotecário”, em São Francisco.

O revisor automatizado de documentos Klarity, também na Califórnia, está oferecendo até US$ 230 mil (R$ 1,17 milhão) para um engenheiro de aprendizado de máquina que pode “solicitar e entender como produzir a melhor resposta” de ferramentas de IA.

Fora do mundo da tecnologia, o Boston Children’s Hospital e o escritório de advocacia londrino Mishcon de Reya anunciaram recentemente vagas para “engenheiros de prompt”.

As vagas mais bem pagas são para quem tem especialização em aprendizado de máquinas ou em Ética, ou para quem já trabalhou em empresas de IA. Segundo os recrutadores, essas são as principais habilidades para a função.

– É provavelmente o momento mais aquecido no mercado de trabalho em TI dos últimos 25 anos – afirma Mark Standen, que tem uma empresa de inteligência artificial, automação e aprendizado de máquinas no Reino Unido e na Irlanda.

A Mishcon de Reya anunciou recentemente a contratação de um “engenheiro de prompt” jurídico para ajudar a empresa a entender como os modelos de linguagem de grande dimensão podem ser aplicados a problemas jurídicos.

– Seu papel é descobrir quão bons são esses modelos agora e qual é a probabilidade de eles atenderem a todas as demandas – diz Nick West, sócio e diretor de estratégia da empresa. – Quero chegar à vanguarda da tecnologia e brincar com ela – completa.

A corrida por talentos nessa indústria lembra o boom com o blockchain, os NFTs e todo mercado cripto de 2021. Empresas de TI agora estão adicionando o termo “IA” nas vagas oferecidas para atrair profissionais que tenham sido demitidos após a crise das empresas de cripto.

Mas muitos acreditam que “há espuma” neste setor, como avalia Tom Hewitson, fundador do labworks.io, um estúdio de design para conversação que desenvolve ferramentas por controle de voz para a Alexa, da Amazon, em Londres. Na sua avaliação a busca por talentos está sendo mais afoita do que o desenvolvimento das novas tecnologias.

– Os prompts (ou o comando dado à máquina) são a principal maneira pela qual as pessoas interagem com essas ferramentas e, portanto, ser bom nisso é de grande valor – diz Adrian Weller, diretor de pesquisa em aprendizado de máquina da Universidade de Cambridge, em Cambridge, Inglaterra.